Setembro Amarelo: saúde mental e os direitos garantidos pelo INSS

 
Caio Prates, do Portal Previdência Total
 
O Setembro Amarelo, campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio e a valorização da vida, volta a colocar em evidência um problema que se agrava no Brasil: o adoecimento mental relacionado ao trabalho. O impacto não é apenas social, mas também econômico, com reflexos diretos na Previdência e nas empresas. Em 2024, mais de 472 mil trabalhadores se afastaram de suas atividades por transtornos mentais e comportamentais, segundo o Ministério da Previdência Social. Em apenas seis meses de 2025, já são 271 mil afastamentos, número que tende a superar o do ano anterior.
 
O fenômeno, segundo especialistas, atinge diferentes gerações de formas distintas. Enquanto a ansiedade é a principal causa entre jovens da geração Z, a depressão predomina entre trabalhadores mais velhos. A tendência acompanha mudanças no mundo do trabalho, marcadas por vínculos precários, pressão por produtividade e falta de limites entre vida pessoal e profissional.
 
Muitas pessoas ainda desconhecem que transtornos mentais podem gerar incapacidade para o trabalho e garantir acesso a benefícios previdenciários. O advogado João Badari, especialista em Direito Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados, explica que o INSS funciona como rede de proteção em momentos de fragilidade. “Quando doenças como depressão, ansiedade ou síndrome de Burnout comprometem a capacidade laboral, o INSS assegura subsistência e dignidade", afrima.
 
Entre os principais direitos assegurados estão o auxílio-doença, atualmente chamado de benefício por incapacidade temporária, concedido ao trabalhador que, por transtornos depressivos ou de ansiedade, fica afastado por mais de 15 dias consecutivos; a aposentadoria por incapacidade permanente, destinada a segurados que, em razão de quadros graves como esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressão resistente, não têm condições de retorno ao mercado de trabalho; o auxílio-acidente, devido em casos de sequelas permanentes após traumas ou transtornos psiquiátricos que reduzam a capacidade laboral; e o Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS), voltado a pessoas com deficiência mental ou intelectual de longo prazo, desde que em condição de baixa renda familiar.
 
Ele lembra que a Constituição Federal reconhece a saúde como direito de todos e dever do Estado, o que inclui a saúde mental. “O Setembro Amarelo não é apenas um mês de conscientização, mas um convite para romper tabus e acolher quem sofre. Transtornos mentais são doenças sérias e precisam de atenção médica, apoio familiar e respaldo social”, completa.
 
Pressões do trabalho e novas obrigações legais
 
As estatísticas refletem o impacto do ambiente laboral. Jornadas exaustivas, insegurança contratual e metas inalcançáveis transformaram o trabalho em um fator de risco. Para a advogada Carla Felgueiras, especialista em Direito do Trabalho e sócia do escritório Montenegro Castelo Advogados Associados, o problema não pode ser tratado apenas com psicoterapia ou medicação.
 
“Se o trabalho está se tornando causa de adoecimento, é preciso enfrentar a raiz do problema. A legislação vem evoluindo: desde 2023, ansiedade, burnout, depressão e até tentativa de suicídio foram incluídos na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, o que garante estabilidade de 12 meses após o retorno do afastamento. Já em 2025, a Norma Regulamentadora nº 1 passou a exigir que empresas previnam riscos psicossociais em seus programas de gerenciamento de riscos. O desafio é transformar essas normas em práticas efetivas”, destaca.
 
Ela acrescenta que o Judiciário tem sido palco desse debate. A Justiça do Trabalho registra crescimento no número de ações envolvendo assédio moral, sobrecarga e adoecimento psíquico. “Muitas empresas ainda preferem reagir apenas quando o problema chega à Justiça, em vez de investir em prevenção. É uma postura que gera custos e não resolve a raiz da questão”, avalia.
 
Impacto econômico 
 
O impacto dos transtornos mentais não se limita ao sofrimento individual. Para o advogado Ruslan Stuchi, sócio do escritório Stuchi Advogados, há também um custo coletivo.
 
“Os afastamentos por transtornos mentais geram custos bilionários para empresas e para a Previdência. Em 2024, só episódios de ansiedade e depressão representaram mais de 250 mil benefícios por incapacidade temporária. O investimento em programas de bem-estar e prevenção é não apenas uma obrigação legal e ética, mas também uma estratégia de sustentabilidade econômica”, analisa.
 
Segundo Stuchi, empresas que adotam políticas de prevenção reduzem significativamente gastos com afastamentos, rotatividade e queda de produtividade. “A conta da negligência com a saúde mental chega para todos: trabalhador, empregador e Estado”, completa.
 
Os especialistas são unânimes ao afirmar que campanhas como o Setembro Amarelo cumprem papel importante de conscientização, mas não podem se esgotar em um mês. “Conhecer os direitos garantidos pelo INSS é parte do processo, mas é igualmente essencial reconstruir o ambiente de trabalho como espaço saudável, seguro e humano”, resume Carla Felgueiras.


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