Semi-aposentadoria: brasileiro quer transição mais lenta do trabalho para o descanso

Thaís Restom, do Portal Previdência Total

Mais da metade da população brasileira (62%) pretende trabalhar menos horas ou iniciar uma atividade diferente da exercida até então, antes de se aposentar totalmente. É a chamada “semi-aposentadoria”. Segundo pesquisa recente do banco HSBC, os brasileiros em idade ativa estão buscando uma transição mais gradual para a vida pós-trabalho.

O levantamento foi realizado com cerca de 16 mil pessoas em 15 países. No Brasil foram entrevistadas mil pessoas pessoas (50 % homens; 50% mulheres), com 25 anos ou mais, e aposentadas, entre agosto e setembro de 2014.

A “semi-aposentadoria” é uma escolha positiva para 42% dos entrevistados brasileiros, que disseram optar por parar de trabalhar gradualmente para ajudar a manter a condição física e mental ativa.

Alfredo Lalia, CEO de Seguros do HSBC, acredita que a população brasileira já percebeu que vai viver mais e quer se aposentar com mais tranquilidade. “Hoje uma pessoa com 60 anos não pensa mais na morte, mas em conciliar longevidade com qualidade de vida. A geração dos 40 e 50 anos também já começa a pensar em se aposentar mais tarde e em uma transição mais lenta do ‘trabalho total’ para o ‘ócio total’”, diz.

O estudo identificou que 73% dos aposentados brasileiros têm sido incapazes de realizar pelo menos uma das suas esperanças e aspirações desde que se aposentaram. E também mostrou que 76% da população em idade ativa, e 80% da aposentada, presta apoio financeiro regular para outra pessoa.

Planejamento

Deixar para se aposentar mais tarde não significa que o planejamento financeiro e previdenciário deve ser esquecido. Afinal, quanto mais avançada a idade, maiores são os gastos com remédios e o convênio privado de saúde, por exemplo, além de outras necessidades relativas à terceira idade. Por isso, é importante manter um investimento visando o longo prazo para ter uma renda extra na velhice.

Para Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), pensar em uma aposentadoria sustentável, infelizmente, ainda não é algo que a maioria das pessoas dê a devida importância. “A Previdência Social, embora não seja o suficiente para ter um futuro tranquilo, é um direito do trabalhador. A previdência privada funciona como um complemento ao INSS, garantindo que, após certa idade, o trabalho seja motivo apenas de prazer e não de obrigação. Ambos são importantes”, acredita.

A pesquisa do HSBC indica quatro ações que podem ajudar a planejar um futuro financeiro melhor: ser realista sobre suas aspirações de aposentadoria; rever seus planos de trabalho no longo prazo; considerar os seus compromissos financeiros mais amplos; e ter um plano de aposentadoria clara.

Dirce Namie Kosugi, consultora e advogada especialista em Direito Previdenciário, recomenda o investimento simultâneo na Previdência Social e privada, mas ela alerta para alguns riscos. “Ambos podem resultar em perda parcial ou total do investimento. Isso porque a legislação previdenciária está em constante mutação; infelizmente nem sempre aprimorando os direitos sociais. E também porque a economia é variável, colocando em risco as aplicações de previdência complementar”, diz.

Segundo o economista Erick Herbert Thau, da Técnica Finance Advisory e sócio da Salix Group, no cenário econômico atual, em termos de rentabilidade, existem outras modalidades de investimento que remuneram melhor o dinheiro investido do que a previdência. “As letras de crédito imobiliário (LCI) e agrícola (LCA), os títulos de renda fixa, entre outros, são boas opções que oferecem um bom retorno financeiro”, explica.

Reforma

Os recentes ajustes propostos nos benefícios da Previdência Social por meio da Medida Provisória 664 (MP 664/2014), do governo federal, trouxeram à tona a discussão sobre o futuro da aposentadoria. As novas regras de restrição do acesso para a pensão por morte, auxílio-doença, abono salarial e seguro-desemprego, acenderam um alerta sobre uma possível e mais ampla reforma previdenciária.

Para Marco Aurélio Serau Jr., professor de Direito Previdenciário e colaborador do Portal Previdência Total, os sistemas previdenciários demandam constante atualização para continuarem compatíveis com as demandas sociais e serem viáveis financeiramente. “Porém, o ajuste é sempre suportado pelos segurados e beneficiários, que sofrem cortes em seus benefícios. Nunca há a busca de outro caminho para a obtenção da sustentabilidade econômica dos sistemas previdenciários”, diz.

Despesas

Rafael Marcatto, sócio da Advocacia Marcatto e colaborador do Portal Previdência Total, também acredita que as medidas propostas de endurecimento da concessão dos benefícios previdenciários atingem duramente o bolso do contribuinte. “Não sou favorável a qualquer mudança previdenciária neste momento, pois a gestão do sistema previdenciário poderia trazer resultados idênticos ou melhores ao esperado com esta nova reforma previdenciária”, acredita.

Da proposta original enviada pelo Executivo ao Congresso Nacional foram mantidas apenas as mudanças previstas na concessão do auxílio-doença. Com a MP 664, as empresas terão um custo maior com o auxílio-doença, porque passarão a ser responsáveis pelo pagamento integral do benefício nos primeiros 30 dias de afastamento do empregado, explica a advogada Bianca Andrade, do Andrade Silva Advogados. “Entretanto, no momento, é a melhor solução encontrada pelo governo, a fim de buscar a garantia dos benefícios da Previdência Social no futuro”, afirma.

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