Petros fará auditoria em créditos privados

Com o nome da fundação mais uma vez envolvido em denúncias de corrupção, a direção do fundo de pensão da Petrobras, a Petros, montou um grupo de trabalho interno e contratou uma consultoria externa para passar um pente fino em sua carteira de títulos privados com provisões para perdas. O objetivo é verificar possíveis irregularidades. As informações são do jornal Valor Econômico.

"Vamos rever todas as aprovações de todos os créditos provisionados", disse Carlos Fernando Costa, presidente da Petros. Segundo ele, será verificado se a governança da fundação foi obedecida na aprovação e aquisição desses papéis, se todos os documentos necessários foram requeridos e se as transações estavam coerentes com a legislação e aprovações, disse em entrevista exclusiva ao Valor.

O nome da fundação voltou ao noticiário policial recentemente depois que documentos e depoimentos prestados no âmbito da Operação Lava-Jato da Polícia Federal vazaram para a imprensa. Há denúncias de que a fundação teria emprestado dinheiro para uma empresa que era controlada pelo doleiro Alberto Youssef e de que dois ex-diretores teriam recebido propina em transações com empresas alvos da operação enquanto ocupavam seus cargos.

Costa diz que até o momento a fundação não recebeu nenhuma notificação ou pedido da PF ou do Ministério Público para qualquer tipo de esclarecimento. "A informação que temos é da imprensa. Quando chegar, vamos nos posicionar prontamente", afirma.

O conselho deliberativo do fundo de pensão montou, há poucas semanas, um grupo interno formado pelo ouvidor, o auditor interno e os gerentes de compliance e de controle para liderar os trabalhos. A consultoria externa, cujo nome não foi revelado, vai dar suporte a esse grupo para avaliar os créditos provisionados. "Esse grupo vai se reportar ao conselho deliberativo, que tem assentos ocupados por eleitos dos participantes, para dar transparência ao processo e não haver conflitos de interesse", disse o presidente da Petros.

Costa conta que esse grupo tem até o fim deste ano para terminar esse trabalho e apresentar um relatório final. Se alguma irregularidade for constatada, a direção vai tomar as medidas necessárias, afirma. "Nos preocupamos com a imagem da instituição e temos que esclarecer o que está acontecendo para o nosso participante."

Não é de hoje, porém, que os investimentos em títulos privados da Petros chamam a atenção. A fundação tinha papéis de bancos que foram liquidados nos últimos anos pelo Banco Central (BC), casos do BVA e do Cruzeiro do Sul. Mais recentemente, tem tido prejuízos com a aplicação no fundo de recebíveis (Fidc) do Trendbank.

O fundo de pensão fechou 2013 com cerca de R$ 520 milhões em provisões para perdas com títulos privados inadimplentes, entre eles cédulas de crédito bancário, certificado de cédula de crédito bancário (CCCB), cédula de crédito imobiliário (CCI), debêntures e certificados de recebíveis imobiliários (CRI). Entre esses papéis estão CCBs emitidas pela V55 Empreendimentos, uma das empresas criadas pelos principais sócios do falido banco BVA para injetar recursos no banco - além disso e papéis do banco, a Petros ainda tinha recursos investidos na gestora do banco, a Vitória Asset. O volume de créditos provisionados já teria subido para perto de R$ 650 milhões este ano, apurou o Valor.

Na semana passada, durante o congresso dos fundos de pensão, em São Paulo, participantes e conselheiros das três maiores fundações patrocinadas por empresas estatais - Previ, Petros e Funcef - fizeram um manifesto pedindo maior transparência e maior acesso a informações relevantes.
No ano passado, a Petros apresentou um déficit de R$ 2,3 bilhões devido à desvalorização dos títulos públicos e à má performance da bolsa, segundo Costa. "Sofremos como todo o mercado. O que ocasionou o déficit foi mais uma questão de mercado", afirma. Até agosto deste ano, último dado contabilizado pela fundação, a rentabilidade dos investimentos foi de IPCA mais 9,28%, ultrapassando a meta da Petros de IPCA mais 5%.
 



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