Captações da previdência privada mostram reação

Em 2014, o mercado de previdência privada começa a se recuperar do choque de 2013. No ano passado, o patrimônio cresceu 10%, bem abaixo da média histórica de 25%, chegando a R$ 374,2 bilhões. Ao mesmo tempo, a captação líquida (aportes menos resgates) ficou negativa em 20,8%. As informações são do jornal Valor Econômico.

Para se ter uma ideia do tamanho do tombo, em 2012, o crescimento da captação líquida dos fundos de previdência privada havia passado de 40%. A queda de 2013 se concentrou no período de maio a agosto de 2013, e foi provocada por uma resolução do Conselho Monetário que obrigou as seguradoras a alongar o vencimento de suas carteiras de renda fixa em um momento pouco favorável.

Este ano, com juros mais altos e um ambiente um pouco mais estável na renda fixa, a indústria começou a reagir. A rentabilidade dos fundos teve uma retomada no primeiro quadrimestre do ano, com ganho médio entre 2,36% e 3,03% para os fundos de renda fixa com taxa de administração, dependendo da taxa de administração.

Desse modo, o setor começa a projetar um crescimento mais robusto. Alfredo Lalia, diretor da HSBC Seguros, aposta na retomada do crescimento da indústria já a partir deste ano. "A captação mercado voltará a crescer acima dos dois dígitos e, quem sabe, na casa dos 20% já este ano", prevê.

O otimismo vem dos números. Segundo Lalia, o Ativo Premier, principal fundo da carteira do HSBC rendeu apenas 75% do CDI em meio às turbulências de 2013. Em 2014, o mesmo fundo chegava a 112% do CDI no primeiro quadrimestre. Com isso, o fundo recuperou cerca de 40% das perdas em relação ao CDI. "Se seguirmos essa tendência podemos ainda em 2014 chegar a 110% do CDI no combinado de 2013-2014."

Segundo Edson Franco, CEO da Zurich Santander Seguros e Previdência, as quedas nominais do ano passado assustaram os investidores de previdência que, em sua maioria, têm um perfil conservador. "Eles são pouco acostumados a esse tipo de volatilidade na renda fixa", diz.

Franco explica que o mau desempenho do setor em 2013 aconteceu porque a resolução do CMN deixou os gestores de mãos atadas. "O alongamento das carteiras de renda fixa é uma medida correta, porque a previdência privada é um investimento de longo prazo", diz. "Mas a medida veio num momento em que os juros voltavam a subir, trazendo grande volatilidade aos títulos com prazos mais longos."

Essa volatilidade atingiu em cheio o desempenho dos fundos. É que as seguradoras são obrigadas a marcar a mercado as cotas dos fundos, registrando ganhos e perdas diariamente, mesmo que carreguem os papéis até o vencimento. E foi isso que levou muitos fundos de previdência privada a apresentar perdas nominais.

"O mercado voltou a crescer no primeiro quadrimestre deste ano, mas ainda não retornou ao mesmo nível registrado no período anterior à queda", continua Franco. O executivo, no entanto, aposta no potencial da indústria no longo prazo. "Vamos retomar as taxas de crescimento de dois dígitos", afirma. "Em 20 anos, a indústria saltou de um patrimônio de R$ 3 bilhões para R$ 374 bilhões no final de 2013, mas ainda podemos crescer muito mais." O crescimento se dará não apenas pela captação dos novos clientes, mas pelos novos aportes dos clientes antigos, explica o executivo.

Felipe Bottino, gerente de produtos de previdência da Icatu Seguros, observa que o movimento de fuga dos investidores foi um erro, pois eles saíram em um momento de baixa. "Como temos um portfólio de fundos com perfis dos mais conservadores aos mais agressivos, nossos clientes sofreram menos, fazendo a portabilidade internamente para posições mais defensivas", diz. "Com isso, nossos fundos mais conservadores ficaram na liderança do ranking de captação em 2013, atraindo novos clientes de outras seguradoras, apesar do mercado ruim."

Em 2014, o Icatu aproveita a recuperação para lançar opções de fundos de previdência multimercado. "São fundos mais agressivos que a previdência mais tradicional, porém mais conservadores que o multimercado comum, pois são submetidos às limitações do regulamento", explica. Os quatro fundos, geridos por terceiros, já captaram cerca de R$ 100 milhões este ano. "São produtos para quem quer mais rentabilidade, mas não quer se preocupar com a hora certa de entrar ou sair."
 



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